As principais linhas de água do concelho, os rios Ovil e Teixeira, são ativos estratégicos que a Câmara de Baião está a requalificar, em linha com as políticas ambientais seguidas pelo município, nomeadamente a aposta na sustentabilidade – Baião foi primeiro município português a receber a certificação como Destino Turístico Sustentável -, e na valorização do património e dos recursos naturais.
Neste âmbito, foi apresentada, na Área de Lazer de Medim, Outoreça, no dia 11 de agosto, a Estratégia de Requalificação das Principais Linhas de Água do Concelho, seguindo-se a cerimónia de assinatura do auto de consignação da obra de Requalificação e Valorização do Rio Ovil – Troço Montante – UF de Campelo e Ovil.
“Este é mais um passo para a concretização dos nossos objetivos. Mais um projeto, que conheço desde 1998, que se apresentava como impossível, mas que estamos a concretizar. É mais um exemplo de que é possível vencer obstáculos – e tivemo-los, por exemplo, no que diz respeito aos terrenos ao longo do percurso – mas conseguimos e, por isso, este é mais um dia muito importante para Baião, para todos nós, o que me deixa muito satisfeito”, sublinhou o Presidente da Câmara de Baião, Paulo Pereira, na cerimónia.
O autarca, depois de traçar uma linha temporal desde o lançamento da ideia até esta fase do processo, recordou os desafios que ainda se apresentam, nomeadamente negociação com os proprietários dos terrenos marginais do troço do rio Ovil, ainda em Campelo, no Gôve e em Ancede, e os 18 quilómetros do rio Teixeira.
“PARA BONS PROJETOS NÃO FALTARÃO APOIOS”
O Vice-Presidente da Agência Portuguesa para o Ambiente (APA), José Pimenta Machado, demonstrou o seu apreço pelo trabalho que o Município de Baião tem vindo a desenvolver, elogiando a “persistência” do Presidente da Câmara, que “não desiste dos projetos em que acredita e que considera importantes para a população e para o concelho”, e, referindo-se ao próximo quadro comunitário – PT 2030, garantiu que “para bons projetos, não faltarão apoios”.
O autor dos Projetos de Reabilitação e Valorização dos cursos de água, Pedro Teiga, doutorado em engenharia do ambiente e especialista em reabilitação de rios e ribeiros, na apresentação dos estudos fez a sua contextualização, destacando a riqueza da fauna e flora existentes – a preservar e a reforçar – a importância do envolvimento dos proprietários dos terrenos ribeirinhos e a consciencialização dos benefícios de todo o projeto, entre outras mais valias para o território.
Rio Ovil – O percurso
O percurso global em reabilitação tem cerca de 16 km, desde a Nascente, junto às serras da Aboboreira e Matos, até à Foz no rio Douro.
É caracterizado por um potencial cultural e ambiental enorme, pois o rio passa pelo carvalhal de Reixela (carvalhal autóctone), por monumentos pré-históricos, junto a antigos castelos roqueiros (Ovil e Penalva), a monumentos da Rota do Românico/medievais (ponte de Esmoriz e Mosteiro de Ancede), caminho romano, um possível geossítio, inúmeros moinhos e levadas, e mosaicos agrícolas diversos.
O projeto
O projeto aponta para a reabilitação e valorização do rio, numa estratégia de desenvolvimento sustentável, recorrendo a técnicas de engenharia natural. Esta área da engenharia ocupa-se da valorização de cursos de água e estabilização de encostas através do emprego de material vivo, combinado com estruturas inertes como madeira ou pedra.
O objetivo passa pela criação de um “corredor ecológico”, que seja um local de fruição da natureza, de atração turística (controlada, dada à necessidade de preservação do equilíbrio ambiental), de sensibilização e educação ambiental.
Em toda a sua extensão a intervenção no corredor ribeirinho prevê a realização de trabalhos de consolidação das margens, corte e limpeza da vegetação, contenção de vegetação exótica e invasora e remoção de entulhos e correção de irregularidades.
Serão beneficiados caminhos antigos comunais e de serventia existentes, através da aplicação de pavimentos resistentes, prevendo-se também a instalação de mobiliário urbano em madeira e a construção de valetas para o encaminhamento de águas nos locais onde se verifique essa necessidade.
As fases do projeto
– Troço Foz com uma extensão aproximada de 2,5 Km entre a Ponte Nova (Ancede) e a foz do Ovil (Ribadouro), projeto que está em fase final de execução e que foi adjudicado por 157 mil euros, financiados pela Agência Portuguesa do Ambiente e pela Câmara Municipal de Baião;
– Troço Montante também com uma extensão de cerca de 2,5 km, desde a Área de Lazer de Medim – Outoreça (Ovil) até à ponte da Rua de Covelo (Campelo), empreitada adjudicada no dia 25/07/2023 por 231.937,00 euros, agora consignada.
Geossítio
No troço junto ao Poço Negro, foi também identificado um possível geossítio – lugar de particular interesse para o estudo da geologia, notável sob o ponto de vista científico, pela singularidade de suas formações geológicas ou da natureza mineral do subsolo.
Foi já feito um levantamento preliminar no local com uma equipa da área da Geologia, da UTAD, liderada por Artur Sá, que identificou o seu potencial: uma extensa área na qual o rio desaparece por entre as rochas, num fenómeno geológico que terá ocorrido pela derrocada sucessiva de blocos de granito que terão formado um canal subterrâneo com diversas cavernas.
Este local aparenta ser um fenómeno único na região, que merece ser estudado de forma mais detalhada, para se compreender o seu processo de formação, identificação de fauna e flora e potencial científico e turístico, com vista à sua futura classificação.